quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sem dores nas costas

por Luci Lahr

para Alda, nascida Habermann, no Matão

Em um vilarejo morava uma senhora muito habilidosa em sua profissão. Caprichosa nos detalhes e muito persistente em seu trabalho, fazia do plantio de hortaliças a sua arte.

Apesar de toda a sua experiência, ela não obtinha sucesso com um determinado tipo de planta. Fizera inúmeras tentativas de plantio, rega, local, tipo de terra, luminosidade, sem atingir o êxito desejado. Desistir jamais, esse era o seu lema.

Um certo dia, enquanto preparava novamente um canteiro para transplantar a hortaliça resistente à adaptação, aproximou-se dela uma senhora de aparência muito humilde, que teve a percepção da dificuldade e da indignação da profissional por aquela falta de êxito. Com naturalidade sábia, a senhora sugeriu uma simpatia inédita para o problema enfrentado.

- Plante a hortaliça no local desejado, e a partir da noite de hoje você deverá dormir diretamente sobre o estrado de sua cama - aconselhou a senhora.

A profissional passou a seguir à risca os conselhos recebidos, entretanto a cada dia a hortaliça definhava e dores nas costas passaram a ser frequentes.

Após um mês trabalhando de sol a sol, com intensas dores nas costas, a profissional teve a oportunidade de compartilhar com a sábia senhora o fracasso da simpatia. E mais uma vez teve um conselho:

- Você investiu meses no plantio dessa hortaliça sem ober sucesso, hoje faz um mês que tem dores nas costas, e até agora você não conseguiu se adaptar ao estrado de sua cama. Durante esses meses todos aconteceu o mesmo com a sua hortaliça. Saiba distinguir persistência de teimosia - finalizou a sábia.

A situação descrita acima pode gerar uma série de interpretações e questionamentos, e faço alguns aqui. Quantas vezes insistimos em uma situação, até mesmo por capricho, e deixamos de fazer outras por não conseguir visualizar a proporção do problema que enfrentamos? Quantos filhos são obrigados a fazerem atividades que seus pais desejam, sem terem habilidade para um determinado esporte ou profissão? Nas empresas, quantos gestores têm dificuldades em administrar situações em que o colaborador não tem habilidade ou não se adapta a um determinado trabalho? E assim, tantos outros questionamentos que podemos fazer.

Se ficarmos mais atentos ao ambiente, abrirmos nossos polos de percepção e utilizarmos a fabulosa intuição, certamente pouparemos tempo e vidas. E poderemos viver melhor, com menos teimosia, e sem dores nas costas.

terça-feira, 27 de março de 2012

Muito além de taças coloridas

por Luci Lahr

O local era tranquilo e muito bem organizado. Ambientação perfeita, com luzes direcionadas, mesas bem postas e os sorvetes deliciosamente expostos nos balcões refrigerados. Uma sorveteria que prometia muito, apenas pelo visual.

Atrás dos balcões era possível observar uma estante de vidro que completava com chave de ouro a ambientação. Eram taças muito coloridas, com texturas e formatos diferenciados, e saltavam aos olhos da clientela. Os recipientes se tornavam argumentos de venda.

O atendimento cordial e correto se destacava dentre aqueles outros estabelecimentos enfrentados no decorrer de um dia cansativo e calorento.

- Algo para beber, senhora?
- Sim, por favor, uma água - respondeu uma cliente idosa acompanhada por sua amiga.

Em poucos instantes todo equilíbrio do atendimento entrou em declínio súbito. Um jovem casal e uma linda criança recém chegados não só roubaram a cena, como também toda a atenção dos atendentes. As senhorinhas permaneceram ali por longo tempo, na expectativa das lindíssimas taças coloridas, dos sorvetes refrescantes, e da água na temperatura desejada.

A situação descrita acima leva-me a pensar nos atendimentos diferenciados dos estabelecimentos comerciais. Na ansiedade por oferecer atendimento exclusivo a um cliente especial, são cometidos deslizes imperdoáveis com outros clientes não menos importantes, e potenciais a cativos.

A preparação de equipes para atendimento de qualidade não é fácil, demanda muita energia e tempo, e exige consciência de cada pessoa envolvida no processo para que tudo transcorra de maneira harmoniosa.

Ter uma equipe consciente de seu papel no atendimento, com atitudes simples e memoráveis aos olhos dos clientes é tarefa mais do que árdua, e faz a diferença no mundo dos negócios, sobretudo no varejo e prestação de serviços.

A gestão de relacionamento com o cliente deve ser cuidadosamente pensada para que atitudes diferenciadas não fiquem restritas a supostos clientes especiais, e assim que se evitem constrangimentos aos demais clientes que aguardam um mínimo de reconhecimento pela preferência e ida ao estabelecimento comercial.

A concorrência está cada dia mais acirrada, e a cortesia natural, equilibrada e sob medida a todos os clientes que ali estiverem é determinante, algo que transcende lindas taças coloridas.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

E quando o sapo mugir?

por Luci Lahr

O boi muge, a abelha zumbe e o sapo coaxa. Sons da natureza e cantos de animais que nos remetem a situações de paz e tranquilidade.

Aberrações da natureza à parte, e longe de discussões infinitas sobre o Darwinismo, o que fazer quando um sapo mugir?

Essa é uma analogia que estabeleço aqui para evidenciarmos contextos em que estamos acostumados com o padrão, mas que de repente, tudo o que pensávamos que fosse o convencional e esperado, deixa de existir ou acontece às avessas.

Desde muito pequenos somos educados e induzidos aos padrões, e assim crescemos e nos desenvolvemos em uma expectativa de situações sob controle: família, amigos, escola e toda uma sociedade nos impulsionam para um padrão de comportamento. Entretanto, os sons da natureza, queiramos ou não, eles se mesclarão.

No âmbito das empresas, a situação não é menos complexa, uma vez que muitos dos padrões de procedimentos são estabelecidos na perspectiva do mundo perfeito. São normas descritas para que funcionem diante do SIM. Mas, e a contingência?

Vivenciei inúmeras situações constrangedoras em meu cotidiano que deixaram evidente a falta de preparo das empresas e de seus colaboradores para enfrentarem momentos que fogem do padrão. E a solução em muitos dos casos seria  muito simples: bastaria uma atitude de ouvir e entender a necessidade do cliente.

O preparo de uma equipe para a contingência pode ser iniciado com uma pergunta de baixa complexidade: O que pode sair de errado? A partir disso será bem mais fácil tomar uma atitude certeira quando um sapo resolver mugir.

Deixando o mundo empresarial de lado, e diante das mazelas da vida, eis uma outra pergunta:

E você, está preparado para ver e ouvir um sapo mugir?